quinta-feira




Movimento para preservação e protecção do naufrágio DORI


Objectivo:



O objectivo do Movimento para preservação e protecção do naufrágio DORI é a criação de um Parque Arqueológico Subaquático na Ilha de São Miguel que permita a preservação deste importante património histórico-cultural e a sua correcta exploração através do turismo subaquático. Através da fundamentação dos seus objectivos e a proposta de medidas concretas pretende-se que a Direcção Regional da Cultura dos Açores seja sensibilizada para a importância da implementação deste Parque.







Fundamentação:

O mergulho recreativo em naufrágios é uma actividade com uma grande procura a nível mundial e o tipo de mergulho mais procurado pela maioria dos praticantes desta modalidade. A grande procura gerada por um cada vez maior número de mergulhadores recreativos credenciados tem levado a um cada vez maior investimento na exploração destes recifes artificiais.
A exploração do potencial económico desta actividade passa, cada vez mais, pelo afundamento propositado de embarcações para a prática do mergulho. A aquisição de uma embarcação, sua limpeza, preparação e afundamento por pessoal especializado, leva à criação de um recife artificial que irá permitir a fixação de novos organismos marinho e desenvolver todo um ecossistema a ser procurado e visitado por muitos mergulhadores. Esta prática muito enraizada em países Anglo-saxónicos, terá levado à criação de variadíssimos locais de mergulho reconhecidos e visitados por mergulhadores de todo o mundo, como a naufrágio de Ranbow Warrior (barco da Greenpeace) na Nova Zelândia ou o caso mais recente do porta aviões USS Oriskany na Florida - uma operação orçada em vários milhões de dólares com o intuito de criar o maior recife artificial vocacionado para o mergulho a nível mundial.

Também a nível Nacional existem casos de sucesso de iniciativas que permitiram o investimento no afundamento de embarcações para a prática de mergulho e consequentes benefícios económicos locais. Na ilha do Porto Santo o navio Madeirense foi afundado com o objectivo de desenvolver o turismo subaquático, sendo hoje uma área protegida detentora de uma grande riqueza e biodiversidade marinha e uma referência a nível Nacional e Europeu no mergulho em naufrágios.
No entanto, em alguns casos, terão sido infortúnios do passado os responsável pela criação de locais de mergulho que estão, hoje, em condições de serem visitados por mergulhadores recreativos. Situado no coração do Oceano Atlântico Norte, a meio caminho entre a Europa e o Novo Mundo, os Açores representam há mais de cinco séculos um importante ponto de apoio à navegação Atlântica. Testemunhos da importância destas ilhas na história da navegação são os cerca de seiscentos naufrágios registados nas águas em redor destas nove Ilhas, sendo que apenas uma pequena percentagem destes locais se encontram identificados e em locais e profundidades acessíveis que permitam a sua exploração para o mergulho recreativo.

O naufrágio mais bem localizado para a sua exploração económica e consequentemente mais visitado dos Açores, é sem dúvida o DORI. Localizado a menos de 5 minutos de barco do Porto da maior cidade dos Açores, Ponta Delgada, numa das zonas mais abrigadas da costa Sul da Ilha de São Miguel e a profundidades ideais para o mergulho, descansa desde 1964 o naufrágio DORI. Quase meio século depois este local encontra-se repleto de espécies marinhas que encontraram abrigo nas chapas de ferro, tubagens e grandes compartimentos intactos ao longo da embarcação de 130 metros.

Embora a presença de uma embarcação em condições ideais para a sua exploração através do turismo subaquático seja, por si só, um recurso que se impõe ser preservado e valorizado, o caso especifico do DORI apresenta características que tornam este naufrágio mais que um recurso económico mas antes um património cultural a ser preservado.

Apesar da história desta embarcação ter, até à data, sido pouco explorada e valorizada, e mesmo esquecida pela maioria da população local, é de salientar que este naufrágio é um ícone do património arqueológico subaquático no arquipélago dos Açores, um património que urge ser protegido e conservado para as gerações futuras.

Uma investigação mais aprofundada à história desta embarcação comprova que o cargueiro Nigeriano DORI, originariamente, Edwin L Drake, é um Liberty-Ship construído durante a segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos e um dos poucos navios deste tipo a participar na operação de desembarque das tropas aliadas na Normandia. Construído no ano de 1943, em Baltimore, EUA, o Edwin L Drake (DORI) é uma cópia idêntica de outros 2750 Liberty-Ship construídos entre 1941 e 1945 e que se tornaram o navio de design único mais reproduzido a nível mundial e símbolo da industria de guerra dos EUA. Dos 2751 Liberty Ships produzidos apenas 200 (onde se inclui o Edwin L Drake / DORI) foram utilizados na operação Overlord, que se iniciou no dia 6 de Junho de 1944 - Dia D - com o desembarque das tropas aliadas na Normandia.

A importância dos Liberty-Ships no desenrolar da segunda guerra mundial está, aliás patente na sua própria designação. A cerimonia de lançamento do primeiro navio deste tipo a ser concluído contou com presença do Presidente Franklin D Roosevelt, que declarou que este novo tipo de navio traria liberdade à Europa, citando um já famoso discurso de Patrick Henry “Give me Liberty or give me death” – nascendo assim o nome dos Liberty Ships. Aliás os poucos navios deste tipo que sobreviveram intactos até aos dias de hoje foram convertidos em Museus Navio.

A existência de um naufrágio que fez parte da maior operação militar da história mundial, em condições ideais para sua visita por mergulhadores, é um património que urge ser protegido e preservado tanto pelo seu valor económico como atracção turística como pelo seu valor cultural. No entanto o potencial turístico e cultural deste património arqueológico não é, ainda, do conhecimento da generalidade da população.

A preservação deste património passa por dois aspectos principais:

• A protecção da integridade da estrutura do naufrágio - que fruto de quase meio século de fundeamento de embarcações neste local, tanto por parte de embarcações locais de mergulho e pesca, como por grandes embarcações da marinha mercante que ancoram regularmente neste zona, tem contribuído para a sucessiva desintegração da sua estrutura.

• A preservação da vida marinha presente no local – Embora as espécies marinhas presentes neste local tenham pouco valor comercial como recurso pesqueiro, a sua exploração através do turismo subaquático representam um grande retorno financeiro para as empresas marítimo-turísticas locais. Este local é anualmente visitado por várias centenas de mergulhadores locais, Nacionais e estrangeiros. O facto de não existir nenhuma protecção deste local permite que embarcações de pesca desportiva e pesca submarina exerçam actividades predatórias que delapidam este importante recurso naquele que é o local de mergulho mais visitado dos Açores.



Medidas concretas:
No seguimento das regras de funcionamento do Parque Arqueológico Subaquático da Baía de Angra do Heroísmo, implementado pela Direcção Regional da Cultura na Ilha Terceira, pretende-se a adopção das seguintes medidas.

Preservação da estrutura do Dori - Através da fixação de bóias de sinalização e amarração (idealmente uma à Popa e outra à Proa do naufrágio, de modo a permitir o acesso a dois circuitos alternativos bem como a presença simultânea de duas ou mais embarcações) pretende-se eliminar o factor de degradação causado pelo sucessivo lançamento de ferros para fundear embarcações neste local.

• Valorização e divulgação do património cultural subaquático – Contribuir, através da criação do Parque Arqueológico Subaquático, para que cada vez mais mergulhadores locais e estrangeiros tenham conhecimento e possam usufruir do património histórico que este naufrágio constitui, pelo papel que os Liberty Ships desempenharam durante a segunda guerra mundial e, em concreto, pelo papel desempenhado pelo Dori no desembarque de tropas aliadas nas praias da Normandia.

• Conservação da vida marinha criada neste recife artificial – Embora a riqueza e biodiversidade de espécies marinhas concentradas neste local de reduzidas dimensões não representem nenhum tipo de recurso pesqueiro de importância, a protecção e preservação destas espécies neste local é de grande interesse e importância para as várias empresas de mergulho recreativo que visitam com grande regularidade este local. Sendo este um local de mergulho apontado como o mais visitado dos Açores, seria de grande interesse a protecção deste local contra actividades predatórias. Esta medida permitirá a conservação da vida marinha aí existente, e a criação de condições para que novas espécies com interesse para o turismo subaquático possam habitar este local, como por exemplo o Mero, espécie emblemática do mergulho nos Açores.

Como aderir a este movimento:
Esta carta de intenções será entregue junto da Direcção Regional da Cultura dos Açores à qual será anexada uma lista de todos os interessados em apoiar este movimento.



Para tal deverá: Enviar um e-mail para: amigosdodori@gmail.com

Deverão constar obrigatoriamente os seguintes dados:

Nome – Profissão – Número de documento de identificação



No caso de empresas, revistas, centros de mergulho e Associações deverá constar igualmente o nome da entidade que representam e respectivo cargo.


Esta iniciativa conta com o apoio técnico do arqueólogo subaquático José Bettencourt e a subscrição da APDM (Associação Portuguêsa para o Desenvolvimento do Mergulho) / Fórum de Mergulho, FPAS (Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas), Revista Portugal Dive, Revista Planeta D´agua e Associação dos Amigos do Mergulho dos Açores.

9 comentários:

  1. Atenção os pescadores desportivos e os caçadores submarinos não são predadores nem delapidadores.
    Tanto é que o Dori está lá á cerca de 50 anos e a fauna é abundante....

    Antes que assinem isto ou aquilo :
    Amigos mergulhadores vejam o caso do Ilhéu em que é ou será proibido o mergulho com escafandro (consultem a legislação do parque natural de São Miguel, que aguarda regulamentação), mas no entanto as maritimo turisticas podem lá operar.
    Não fique o Dori também limitado aos operadores turisticos e os locais ou particulares verem a sua acção limitada por outros interesses.

    Não sou advogado do diabo
    O bom senso vale ouro.
    Cuidado com os radicalismos.

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  2. Acho que estão a ser um bocado egoístas... concordo plenamente com aquilo que o Guy Costa mencionou e bem!

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  3. Caro Guy da Costa,

    De facto os Pescadores desportivos e caçadores submarinos "não são predadores nem delapidadores" mas é um facto que exercem uma actividade predatória sob a vida marinha (i.e. em que organismos marinhos são retirados do seu habitat natural) e consequentemente, neste caso especifico, por estarmos a falar de uma zona pequena e rodeada de uma grande area de fundo de areia delapidam a mesma vida marinha que tantos mergulhadores pretendem observar.

    Quanto aos radicalismos o que se pretende é exactamente o oposto: adoptar medidas que já existem em Portugal e já existem nos Açores (Parque Arquelógico Subaquático da Baía de Angra)com provas dadas de regras de funcionamento simples com o objectivo de preservar um património que é de todos, aberto a que todos possam visitar.

    E excatamente por o mar ser de todos custa-me um pouco acreditar que irá existir algum tipo de inconveniente em não se poder pescar numa zona tão reduzida como esta e que por outro lado é tão utilizada por mergulhadores recreativos locais e empresas de mergulho. Afinal de contas estamos a falar naquele que é provavelmente o locla de mergulho mais visitado dos Açores.

    Se em todo o mundo se gastam grandes somas para criar as condições que o acaso criou ao afundar-se um barco da segunda guerra mundial em frente à cidade mais movimentado dos Açores, seria um pouco vergonhoso para nós se não nos conseguissemos entender em algo tão simples como preservá-lo e divulgá-lo, tornando-o um icon desta Ilha, para que cada vez mais amantes do mar o visitem.

    Tal como é um pouco desmotivante que nesta iniciativa o primeiro comentário de um mergulhador seja a levantar problemas, objecções e dúvidas em vez de apoiar, dinamizar, propôr ideias e soluções. Este é um projecto sem fins lucrativos que irá para a frente se nos juntarmos para que vingue, um projecto de todos e para todos.

    Será que hoje em dia alguém que faça um mergulho no navio Madeirense, na Ilha de Porto Santo, em que é acompanhado durante todo o circuito por dois simpáticos Meros, acha que este sítio não deve existir. Que tem mais lógica pescar esses 2 meros do que ter centenas de pessoas a visitar o Porto Santo pelo previlégio de interagir com eles?

    Bons mergulhos para todos

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  4. Boas Nuno
    Tens o meu total apoio neste projecto que deveria virar "lei".
    Fui, sou e serei um caçador submarino antes de mergulhador de escafandro...mas...convenhamos que o Mar é gigantesco e existem milhares de lugares para fazer caça em toda a ilha de São Miguel sem "desertificarmos" o "DORI".
    Abraço e mergulhos em segurança

    "Um mergulhador só está em má companhia!"

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  5. Nuno, atitudes como esta são de louvar!
    Realmente é pena que o primeiro comentário não seja animador, mas desmotivante também não é!
    De facto, depois de o ler fiquei ainda com mais vontade, não só de aderir de imediato ao movimento como de divulgá-lo o mais que puder! Um incentivo, portanto.


    Obrigada pelo tempo e dedicação a este projecto, continua assim! **

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  6. Antes de mais, meus parabéns pela iniciativa!
    Sou mergulhador e caçador submarino.
    Concordo plenamente que seja interditado todo e qualquer tipo de pesca no dori, acho que pelas suas caracteristicas deve ser reservado exclusivamente ao mergulho com escafandro.
    No entanto realço o alerta aqui deixado pelo nosso amigo Guy da Costa, no sentido de qualquer mergulhador poder lá ir mergulhar independentemente de ser através de um centro de mergulho ou não.

    Espero que este projecto siga em frente.

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  7. Caros amigos, uma vez que este projecto é para ser apresentado à Direcção Regional da Cultura para integrar os Parques Arquelógicos Subaquáticos dos Açores (quem não conhece ou quiser saber mais pode visitar http://pg.azores.gov...h/default.aspx ) pretende-se que, à partida, sejam as mesmas regras a ser aplicadas. Em termos do mergulhador particular impõe o cumprimento das mesmas regras que as empresas, ou seja, utilizar as boías para subida e descida e não trazer nem destruir nada no fundo.
    Todas as vezes que mergulhei no Lidador (Parque Arq Sub da Baía de Angra), meti a garrafa às costas e entrei a nado a partir do clube naval, tal como em qualquer outro local da costa da ilha terceira. Tal como o outro sítio arqueológico visitável do Parque Arquelógico Subaquático da Baía de Angra, o cemitério das Âncoras.


    As regras estão no site da Cultura, não fazem nenhuma distinção em termos de empresas de mergulho ou mergulhadores individuais, e são:

    Regras

    Regras básicas
    • Possuir caderneta de mergulho válida
    • Executar mergulhos que não excedam os limites de descompressão
    • Sair da água com um mínimo de 50 bar (ou 500 psi)
    • Amarrar a embarcação nas bóias especialmente marcadas para o efeito
    • Usar a bandeira alfa, para identificar a sua presença dentro de água

    Actividades proibidas dentro do Parque Arqueológico:

    • A recolha de bens do património cultural fora do âmbito de trabalhos arqueológicos devidamente licenciados
    • Quaisquer tipo de obras que possam ter efeitos intrusivos e perturbadores nos vestígios em questão e/ou do seu meio envolvente,
    • Escavações, dragagens e aterros, areias ou outros resíduos sólidos que causem impacto visual negativo ou que a água;
    • Colheita de material geológico ou arqueológico ou a sua exploração sem autorização competente;
    • Abandono de detritos ou quaisquer formas de lixo;
    • Prática de actividades desportivas susceptíveis de causarem danos nos elementos naturais da área.
    • A prática de caça submarina;
    • Fundear dentro das zonas assinaladas como zona de Parque Arqueológico Visitável;
    • Utilizar as bóias sinalizadores para outros fins que não os de visita aos Parques Subaquáticos Visitáveis;
    • Trânsito de embarcações em redor das bóias de sinalização dos Parques Visitáveis e aproximação à bandeira alfa, sinalizadora da presença de mergulhadores, num raio de 25m.

    Não se esqueça: deixe só bolhas de ar e leve apenas fotografias e recordações!



    Um abraço e bons mergulhos.

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  8. Peço desculpa, o link completo para o site dos Parques Arqueológicos Subaquáticos dos Açores é http://pg.azores.gov.pt/drac/cca/pasa/

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  9. Joana, todas as iniciativas e projectos tem maior aceitação se contarem com a participação de todos. Neste caso seria fundamental que todos os que disfrutam do mar das mais variadas maneiras se sintam incluidos nesta belissima iniciativa de forma a carinhá-la. Chamar delapidadores e predadores seja lá a quem for mesmo sendo os termos correctos não é simpático.
    Neste link http://www.vimeo.com/2017820 apesar das imagens não terem muita qualidade podem ver o nosso dori. Neste link também o podem ver http://www.youtube.com/watch?v=_ladw-eKpRQ.

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